Céu aberto, mente aberta: Matrix e a Kombiousa aterrissam na Escola Monteiro

Você já teve a sensação de que algo no mundo não está certo? Já se perguntou se aquilo que vivemos é, de fato, a realidade — ou apenas uma simulação construída para que não façamos mais perguntas? E se houvesse uma escolha entre permanecer no conforto da ilusão ou enxergar, de uma vez por todas, o que está por trás da superfície?
Essas inquietações, além de serem elementos principais do universo ficcional de Matrix, o clássico futurista que atravessou gerações com seus enigmas sobre realidade e consciência, escaparam da tela montada pela Kombiousa, ganharam corpo no ar da noite e se espalharam pelas cadeiras de praia e conversas. Os alunos do Ensino Médio da Escola Monteiro foram convidados a mergulhar fundo – não apenas no filme, mas nas camadas da existência, da ciência e da sociedade. Um chamado para romper o véu do óbvio e experimentar o conhecimento como algo vivo, provocador e transformador.
O Cineclube Itinerante
Na nova unidade da Escola Monteiro, um encontro entre arte, ciência e educação marcou mais uma etapa da caminhada inovadora do nosso Novo Ensino Médio. A Kombiousa estacionou por ali, abriu suas portas e transformou o espaço em um cineclube a céu aberto. O filme escolhido para essa edição do Cinema Comentado foi o clássico dos anos 90, Matrix, obra que há décadas instiga reflexões sobre o real e o virtual, o livre-arbítrio e a inteligência artificial.
Mas não era só sobre assistir. Era sobre olhar de novo. Ver com outros olhos. Sentados em cadeiras de praia, com lanches na mão e curiosidade acesa, alunos, professores, familiares e convidados embarcaram numa experiência que, para nós da Monteiro, é o que chamamos de educar com profundidade.
A proposta do evento — uma parceria com a Editora Cousa — parte da ideia de que o cinema pode e deve ser uma ferramenta pedagógica. Como explica o professor de História Márcio Vaccari, um dos mediadores da sessão, “a intenção do projeto é escolher filmes que possibilitem o estabelecimento de discussões que envolvem o cotidiano e, ao mesmo tempo, reforcem conceitos trabalhados nas disciplinas.” Para ele, essa é a própria tônica do Novo Ensino Médio da Monteiro: dar significado aos temas e preparar os jovens para os desafios da vida, dentro e fora da escola.

Cada professor convidado atua como mediador, conectando o enredo do filme aos conteúdos e reflexões de sua área. A professora de Biologia, Camila Frade, destaca como esse tipo de abordagem transforma o modo como os alunos assistem a filmes: “Eles nunca mais veem um filme com o mesmo olhar. Conseguem compreender determinados acontecimentos de forma crítica, entender que a ficção pode sim ser reflexo de uma realidade e que eles podem se inserir como cidadãos críticos a partir disso.”
Cada professor convidado atua como mediador, conectando o enredo do filme aos conteúdos e reflexões de sua área. A professora de Biologia, Camila Frade, destaca como esse tipo de abordagem transforma o modo como os alunos assistem a filmes: “Eles nunca mais veem um filme com o mesmo olhar. Conseguem compreender determinados acontecimentos de forma crítica, entender que a ficção pode sim ser reflexo de uma realidade e que eles podem se inserir como cidadãos críticos a partir disso.”
No caso de Matrix, Camila traçou conexões entre o enredo e temas da biologia, como o consumo de energia pelos organismos, o conceito de parasitismo e a neuroplasticidade do cérebro. “Nosso cérebro cria realidades simuladas. Às vezes vivemos situações no campo dos sonhos ou da ansiedade que não são reais, mas o corpo responde como se fossem. Isso também é Matrix. É biologia. É humano.”

Já para o professor de Física, Alexsandro Santos, o cinema é uma ponte entre o imaginário e o conteúdo científico: “Às vezes, o que não conseguimos demonstrar na prática ou mesmo no laboratório, o cinema mostra com clareza. É uma forma de ampliar a visão de mundo dos alunos, trazer para dentro da escola vivências que muitos deles talvez nunca tenham tido.”
A importância de ações como essa está justamente na presença ativa dos professores. Quando saem da sala de aula para ocupar outros espaços com seus alunos, além de apenas transmitem conhecimento de maneira tradicional: provocam, inspiram e constroem, junto com os estudantes, formas mais sensíveis e significativas de aprender. O cinema, nesse contexto, não é um fim em si. É o início de uma conversa, de um olhar novo, de uma pergunta que ainda não foi feita – em uma linguagem mais acessível.


E como reforça o próprio espírito do projeto, talvez fosse mesmo hora de deixarmos de ver o filme apenas como um objeto pronto, como algo a ser “decifrado”, e passarmos a enxergá-lo como o resultado de um gesto criativo.
Cada plano, cada corte, cada som é como a pincelada de um artista — e é através dela que podemos entender o mundo e a nós mesmos. Afinal, o cinema participa da formação do nosso olhar sobre a vida, das imagens que construímos do que é possível ser e sonhar. Ele educa, emociona e abre caminhos. E quando entra na escola pelas mãos certas, pode transformar por completo a experiência de aprender.