Alunos da Escola Monteiro transformam ideias em realidade através da leitura e escrita
Em um mundo onde a criatividade e a imaginação são essenciais, alunos/as da Escola Monteiro desenvolvem iniciativas autônomas que abrangem Arte, Literatura e escrita. Recentemente, dois desses/as alunos/as, Antônia Schimitt e Francisco Rabello, embarcaram em uma jornada literária ao criar um livro que mescla os gêneros literários diário e quadrinhos, tudo isso em um estilo narrativo criativo.
A história concebida pela dupla segue as aventuras de uma gatinha curiosa que encontra um caderno de diário vazio no chão de um shopping, em um dia incomum, com uma forte onda de calor. Através das páginas do diário que a gatinha passa a preencher, o/a leitor/a descobre um mundo de descobertas, desafios e aprendizados, tudo através do olhar da expert gatinha, permitindo que seja possível não somente conhecer a gatinha, mas diversos outros personagens cativantes.
“A gente se baseou na gata de estimação do Francisco. Ele tem uma gatinha chamada Gisele e nós nos inspiramos nela para criar a protagonista da história”, comenta Antônia sobre como deram início ao processo criativo da protagonista.
“Tentamos usar tudo o que a gente aprendeu sobre produção de texto durante as aulas. A sinopse, a apresentação, sumário, caixa de diálogos, a despedida, tudo foi usado a partir das aulas que tivemos sobre esses tipos de textos”, complementa Francisco.
Apesar da pouca idade, essa não foi a primeira vez que a dupla esteve envolvida em projetos de escrita. Em 2023, Antônia desenvolveu a história, também em quadrinhos, sobre uma personagem curiosa, inspiradora e poderosa, a Super Professora, que viajava o mundo ajudando pessoas que estavam com dilemas que parecessem impossíveis de serem resolvidos. Segundo ela, a intenção era falar sobre “empatia” e “inspirar” os/as colegas da escola, seja no que for que eles/as desejassem fazer.
Além da história da esperta gatinha e da Super Professora, a dupla também já foi responsável por escrever, em 2023, o “Jornal Aleatório”, idealizado inicialmente pelos dois, mas que acabou unindo vários colegas de turma no projeto. A ideia era produzir um jornal para fazer sobre assuntos diversos e que fosse propositalmente divertido, fácil de ler e – como o nome sugere -, aleatório.
“A gente juntou um grupinho no 4° ano e fez várias tiragens. Demorou 4 meses para terminar. Ele funcionava igual um jornal normal, só que tinham notícias aleatórias com ilustrações. Eram bem legais de fazer. Era muito humorado e tinham muitos memes”, lembrou Francisco.
Por mais que pareçam, essas criações vão além de uma simples história em quadrinhos: são convites à exploração da leitura e da escrita, estimulando a imaginação e o senso de aventura. Essa iniciativa reflete o poder da criatividade e da colaboração entre os/as jovens, inspirando outros/as a seguirem seus sonhos e darem vida às suas próprias histórias.
De acordo com Luma, bibliotecária da Escola Monteiro, promover o contato direto dos/as alunos/as com autores de livros através de projetos desenvolvidos na escola é uma maneira eficaz de incentivá-los. Ao possibilitar que façam perguntas, conversem e interajam com autores, ilustradores e idealizadores de obras literárias, os/as estudantes compreendem que o escritor e o criador de um livro são pessoas comuns, não muito diferentes deles.
“Entender os processos de produção e publicação de um livro pode ser um dos fatores que impulsionam o desejo de contar suas próprias histórias. Essa abordagem fortalece o vínculo dos/as alunos/as com a leitura e também os inspira ao mostrar que eles/as também têm potencial para criar e contribuir para o mundo literário”, explica Luma.
Durante eventos culturais, como a Semana Cultural, e manifestações artísticas, como a Tarde de Talentos, os/as estudantes são convidados/as a explorar diversas formas de interação com a Arte e expressão criativa. Além disso, em momentos especiais durante as aulas, eles/as têm a oportunidade única de dialogar diretamente com os autores dos livros que estão lendo.
Um exemplo recente ocorreu durante a última edição da Semana Cultural, onde os/as alunos participaram do lançamento do livro “Poeminhas no Quintal”, com a presença da autora Bartira Zanotelli. Ademais, durante as aulas de Português, eles/as foram privilegiados com a visita da ilustradora do livro “Pássaro de Fogo”, professora de Arte na Escola Monteiro, Iclea Santos Correa, bem como dos autores e ilustradores do livro “Golo”, Gabriel Vogas e Thiago Egg.
“Cada vez que compartilhamos uma história ou discutimos um livro, incluindo a biografia do autor e sua obra literária, acabamos por inspirá-los a criar, pois se identificam com o autor como indivíduo.” comenta Luma.
E complementou: “Podemos identificar elementos do que foi apresentado na Biblioteca refletidos em suas criações, como por exemplo em ‘As Aventuras de Mike’, ‘O Homem Cão’ e ‘Diário de um Banana’” , finaliza.
Mais do que uma obra literária divertida, essa iniciativa evidencia a vontade de transformação de cada indivíduo, impulsionada pelos projetos e metodologias de ensino pedagógicas da Escola Monteiro, que promovem a autonomia e o aprendizado positivo.
De acordo com Ludimila Rupf, Assessora de Língua Portuguesa da Escola Monteiro, existem projetos educacionais que visam imergir os/as alunos/as no universo da literatura ao longo de sua jornada escolar. Entretanto, o que torna esse projeto especial é que ele não possui como objetivo principal apenas desenvolver habilidades linguísticas, mas sim promover, também, a apreciação estética e a compreensão textual.
Assim, os/as alunos/as têm a oportunidade de se envolver com textos autênticos de diversos gêneros e épocas, o que naturalmente contribui para o desenvolvimento de suas habilidades linguísticas, porém, o foco principal está na apreciação e compreensão da Literatura.
Rupf explica: “Trabalhamos com estratégias diversificadas para abordar o texto literário de forma significativa, envolvendo atividades de criação em grupo, propostas maker, releituras, elaboração de podcasts analíticos, traduções intergênero etc.” Ela destaca que: “essa variedade de ações pedagógicas promove o engajamento e permite aos/as alunos/as explorar a criatividade ao máximo”.
Para a Assessora de Língua Portuguesa, oferecer uma variedade de gêneros literários nos projetos de letramento para alunos/as em idade escolar inicial é essencial. De acordo com ela, a Literatura, como arte da palavra, é importante para nutrir a alma, segundo a perspectiva latina, onde a palavra “animus” está associada a um elemento que nos constitui sem estar corporificado.
“Antonio Candido, em um texto clássico dos anos 1980, defende que a Literatura é um direito humano, pois é crucial para a humanização e a formação de sujeitos. A diversidade de gêneros e estilos literários enriquece nossa capacidade imaginativa”, diz Ludimila. “Investir no letramento desde os primeiros anos escolares traz benefícios duradouros, tanto para o desenvolvimento acadêmico quanto para o desenvolvimento pessoal”, complementa.
Além disso, ela enfatiza: “A Literatura tem uma capacidade transformadora por si só. Observando realidades ficcionalizadas, podemos pensar e agir sobre a nossa própria realidade”. Por fim, ressalta o papel da escola, afirmando que “é importante a curadoria do/a professor/a em suas leituras para que percebam aspectos mais profundos e compartilhem suas interpretações com os/as colegas”.
Ela ainda destaca que “à medida em que acumulam experiências leitoras distintas, os/as alunos/as ampliam sua capacidade de aprofundar suas análises com autonomia”.
Sobre o impacto da leitura, ela pondera que “a máxima de que quem lê muito escreve bem, disseminada no senso comum, não é inteiramente verdadeira. Mas é inegável que quem lê – e a qualidade da leitura conta mais do que a quantidade -, abre mais facilmente as portas para o novo, porque o leitor está habituado a transitar por universos distintos, menos ou mais próximos do seu. Portanto, sua capacidade analítica, investigativa e criativa é ampliada”.
Assim, a história de Antônia e Francisco, com o suporte dos educadores da Escola Monteiro, ilustra o impacto da educação na promoção da criatividade, imaginação e potencial transformador dos/as jovens. Essa preparação os/as capacita a enfrentar os desafios do mundo moderno com confiança e inspiração.
Como Antônia e Francisco expressaram ao discutir suas intenções por trás do livro que criaram, eles afirmaram: “Queríamos mostrar situações reais vistas a partir da vida de uma gatinha, mas antes de tudo é para ser uma história divertida, porque foi muito divertido escrever”. Assim, ambos evidenciam como a educação não apenas incute habilidades práticas, mas também nutre um amor pela aprendizagem e pela expressão criativa.
Confira a versão digitalizada de “O diário de um Gato” clicando aqui.
Texto: Deivid d. Paula