"Era uma vez...": encantamento, educação e cidadania na Escola Monteiro
No universo encantado do projeto “Era uma vez…”, os alunos do 1º ano da Escola Monteiro vivenciaram uma experiência que mesclou fantasia e realidade ao explorar o mundo dos castelos em suas diferentes épocas e funções. Esse projeto interdisciplinar, idealizado por toda a equipe pedagógica, proporcionou uma jornada diversificada, educativa e divertida. A partir dessa ambientação, são trabalhados conhecimentos que, de forma lúdica, promovem a reflexão dos alunos sobre diferentes modos de vida, educação e cidadania.
Para o desenvolvimento desse projeto, foi utilizado como base o gênero textual “conto maravilhoso”, mais conhecido como “conto de fadas”, narrativa caracterizada pela sua brevidade e estrutura compacta. Ele inclui introdução, conflito, clímax e conclusão, desenvolvidos de forma simples e direta, com a presença de personagens e cenários típicos e de um elemento mágico. A imersão nesse gênero narrativo e a análise de seus aspectos composicionais são essenciais para ajudar os alunos a aprimorar suas habilidades de leitura e interpretação e, por consequência, a sua percepção de mundo. Dessa forma, os contos maravilhosos foram explorados no projeto não apenas para entreter, mas também para estimular a imaginação dos alunos.
Ludimilla Rupf discute sobre o impacto do gênero narrativo “conto de fadas” na formação do indivíduo, destacando sua importância em termos de habilidades sociais e compreensão de diferentes perspectivas de vida. Ela explica que os contos de fadas inicialmente tinham uma função didática, destinada a ensinar valores que garantiam a segurança das crianças. “Hoje olhamos para os contos de fada como obras de arte literária e não os empregamos mais com sua função original, moralizante. Por nos fazer transitar entre diferentes universos – mais próximos ou mais distantes dos que vivenciamos na realidade –, a experiência de leitura é transformadora por si só, especialmente quando explorada pelo viés da formação de leitores críticos e conscientes, como fazemos aqui na escola”.
Para que esses impactos na formação dos alunos sejam possíveis através do projeto “Era uma vez…”, Ludimilla comenta que, ao longo do desenvolvimento do projeto, os alunos participaram de muitos momentos de leitura compartilhada em roda, durante os quais refletiram sobre todos os aspectos dos contos de fadas, não apenas os composicionais. Essas atividades estimulam os alunos a desenvolver habilidades de compreensão leitora, como a localização de informações explícitas no texto e a interpretação de informações implícitas, além de fomentar o pensamento crítico, uma vez que cada aluno tem a oportunidade de compartilhar suas experiências de leitura, suas dúvidas e suas impressões subjetivas sobre as narrativas.
Outros exemplos de contos lidos com os alunos durante o desenvolvimento do projeto são:
Karla Muruce, professora regente do 1° ano B, do Ensino Fundamental Anos Iniciais, destaca o impacto positivo do projeto “Era uma vez…” nas crianças, afirmando que ele é “recebido sempre com alegria e entusiasmo, pois os contos de fada fazem parte do imaginário infantil desde pequenos.” Ela aponta que esses contos são contados e recontados ao longo da infância das crianças, e das famílias também, o que contribui para a aceitação bem-sucedida do tema nas turmas.
Segundo ela, o projeto começa com a contação de histórias nos momentos de biblioteca e em sala de aula, utilizando elementos reais dos contos para provocar a curiosidade das crianças. Muruce enfatiza: “Implementar um projeto com essa temática em turmas de 1º ano permite trazer para o contexto da sala de aula elementos presentes no cotidiano da criança, que despertam para uma aprendizagem significativa e cheia de ludicidade.”
Natiely Nobre, professora regente do 1° ano A, fala sobre as atividades do projeto “Era uma vez” que foram mais engajadoras para os alunos, destacando a criação dos personagens e a produção coletiva e individual dos contos. Ela afirma: “Essas atividades foram inovadoras e permitiram que cada criança assumisse um papel de protagonismo, o que aumentou significativamente o engajamento dos alunos no projeto”.
Integração curricular e formação de cidadãos críticos
Um grande triunfo de qualquer atividade pedagógica é sua capacidade de integrar diferentes áreas do conhecimento. No caso deste projeto, esse objetivo foi plenamente alcançado ao unir componentes curriculares como Artes, Língua Portuguesa e Humanidades. Essa integração permite o enriquecimento do aprendizado e também contribui para a formação de cidadãos bem informados e empáticos. Ao desafiar os estudantes a considerarem diferentes perspectivas para compreender as crenças alheias, o projeto estabelece uma base sólida para o desenvolvimento do pensamento crítico.
Segundo as professoras dos 1°s anos, Natiely Nobre e Karla Muruce, essa interdisciplinaridade abrange desde a reflexão sobre épocas distintas e funções dos castelos até as pesquisas sobre brasões familiares, envolvendo também a criação coletiva de um brasão da turma, leituras compartilhadas de obras literárias e construção de castelos com materiais não estruturados. Finalmente, o projeto é encerrado com uma imersão completa em um dia temático medieval, com a ida ao teatro Campaneli, em um castelo simulado, e a realização de um baile real a fantasia, repleto de experiências encantadoras!
Sobre a integração curricular do projeto, Ludimilla Rupf argumenta que, na vida cotidiana, usamos conhecimentos de várias áreas sem categorizá-los rigidamente. No entanto, por razões didáticas, a escola tradicionalmente divide esses conhecimentos em disciplinas separadas. No contexto do projeto, ela explica que foi possível unir todos esses conhecimentos em um esforço conjunto para experimentação e construção de um produto final. “Assim, os estudantes exploraram o conto de fadas com leitura e escrita de textos vinculados a esse gênero, de modo a apurar sua sensibilidade estética para a literatura; aprenderam sobre o modo de vida nos castelos, sua contextualização histórica e sua relação com os contos de fadas, além de terem se valido da expressão artística para externar sentimentos, emoções e conhecimento acumulado”, explica.
Como já mencionado, uma das diversas disciplinas aplicadas e articuladas neste projeto é a Arte. Através da arte, a humanidade expressa suas necessidades, crenças, desejos e sonhos. Cada pessoa possui uma história, que pode ser individual ou coletiva. As representações artísticas nos oferecem elementos que facilitam a compreensão da história dos povos em cada período.
A professora de Arte Sandra Bastos afirma que no projeto e na vida cotidiana a arte atua como uma ponte entre o conhecimento acadêmico e a formação integral do aluno: “A prática artística, seja através da produção artística com tinta, lápis, colagem ou outra técnica, seja na escrita criativa, apresentações teatrais ou outras formas de expressão, melhora as habilidades de comunicação e expressão dos alunos. Essas habilidades são transferíveis para outras áreas acadêmicas e são cruciais para o sucesso acadêmico e profissional”.
Para Natielly Nobre, a interdisciplinaridade do projeto não apenas enriqueceu o aprendizado em cada área do conhecimento, mas também proporcionou uma compreensão mais ampla e profunda dos temas estudados. “Ao realizar a conexão entre essas áreas do conhecimento, acredito que tornamos o aprendizado mais interessante e relevante para cada criança, pois mostramos como os conhecimentos de diferentes áreas se inter-relacionam e se aplicam à vida real”, afirma.
As atividades de pesquisa e criação, como a produção de brasões e castelos, promoveram a troca de conhecimentos e o sentimento de pertencimento entre os alunos. “Essas ações possibilitaram que cada criança participasse ativamente do processo de pesquisa, construção e criação, promovendo a troca entre todos e o sentimento de pertencimento”, afirma Natiely. Essas atividades contribuíram para o desenvolvimento da noção de cidadania e colaboração entre os alunos, reforçando a importância do trabalho em equipe e do respeito mútuo.
Letramento literário e cidadania
Sobre como as atividades de pesquisa e criação, como a produção de brasões e castelos, contribuíram para o desenvolvimento da noção de cidadania e colaboração entre os alunos, a professora Karla Muruce destaca o papel fundamental do assessor de Humanidades da escola, professor Márcio Vaccari. Em momentos de bate-papo com os alunos, Vaccari conectou os contos que permeiam o imaginário das crianças com castelos reais, explorando o significado simbólico de cada brasão como identidade de um castelo, reino ou exército.
A partir desse ponto, as crianças foram incentivadas a criar seus próprios brasões, refletindo suas características individuais. A participação das famílias nesse processo foi essencial: “elas se envolveram ativamente na criação junto com as crianças, promovendo não apenas a criatividade, mas também valores de colaboração e cidadania”, comenta Karla Muruce.
E, após dias de intensa dedicação por parte das crianças e dos profissionais da escola, o projeto “Era uma vez…” teve seu desfecho tão aguardado. No evento de encerramento, os familiares testemunharam a magia do projeto, em que os alunos apresentaram catapultas, livros e castelos construídos ao longo das atividades.
Essa experiência interdisciplinar educou e também encantou, transformando o aprendizado em uma jornada memorável de descoberta e crescimento pessoal para todos os envolvidos. Assim, “Era uma vez…” foi muito mais do que um projeto escolar; foi uma oportunidade de construir pontes entre o conhecimento acadêmico e a formação integral dos alunos, preparando-os para serem cidadãos críticos, conscientes e empáticos. “Foi um momento especial, repleto de imaginação e afeto. Agradecemos a todos pela presença!”, concluiu a equipe pedagógica.
Texto: Marcela Gasparini e Deivid d. Paula