Redescobrindo a essência do contato humano sem a dependência dos celulares

Em meio a uma era em que o celular se tornou quase uma extensão do ser humano, o Brasil e a Escola Monteiro implementaram uma medida inovadora e transformadora: a proibição do uso de celulares e demais dispositivos eletrônicos portáteis no ambiente escolar. Essa decisão se baseia nos preceitos da psicologia contemporânea – que evidenciam os riscos do uso excessivo de tecnologia –, e também está fundamentada na Lei nº 15.100/2025, que determina a proibição desses aparelhos em instituições de ensino, abrangendo inclusive os recreios e intervalos.
Uma Decisão Fundamentada em Evidências e na Lei
O livro A Geração Ansiosa alerta para os efeitos deletérios do uso excessivo de smartphones, destacando problemas como a fragmentação da atenção, o aumento dos índices de ansiedade e a perda gradual da habilidade de se relacionar pessoalmente. Segundo o autor, o psicólogo Jonathan Haidt, a “infância baseada no celular” compromete o desenvolvimento de competências essenciais, como a comunicação olho no olho e a construção de vínculos interpessoais autênticos.
Inspirada por esses dados e respaldada pela Lei nº 15.100/2025, a gestão da Escola Monteiro decidiu restringir o uso de celulares durante o período escolar. Essa medida visa, antes de tudo, recuperar espaços para o diálogo e para o desenvolvimento emocional dos alunos, oferecendo uma alternativa que estimula a autonomia e a criatividade, sem se tratar de uma punição.

Desde a implementação da medida, o cotidiano escolar passou por uma transformação notável. Os alunos demonstram maior concentração nas aulas e participam de forma mais ativa em atividades coletivas, resgatando o valor das interações face à face. Essa mudança cultural tem contribuído para a melhoria do desempenho acadêmico e também para o fortalecimento dos laços sociais e emocionais entre os estudantes.
Impactos e Perspectivas
Inicialmente, a medida gerou resistência entre os alunos, acostumados a ter o mundo digital sempre ao alcance das mãos. Alexandra Meneghelli, Coordenadora de Turno do Ensino Médio, relatou que a mudança foi vista, a princípio, como uma punição. Contudo, com o tempo, os estudantes começaram a reconhecer os benefícios da nova dinâmica escolar.
Ela complementou essa visão compartilhando um episódio que a marcou: “Durante uma atividade de grupo, um aluno me confidenciou que, pela primeira vez, se sentiu completamente presente em uma conversa, sem as interrupções do celular. Esse relato me tocou profundamente, pois mostrou que estamos recuperando a essência das relações humanas.” Tais experiências evidenciam que a medida transcende o aspecto disciplinar, promovendo um ambiente de interação mais genuíno.





Atividades criativas marcam os momentos de interação entre os alunos
Diálogo, Desafios e a Construção de Novas Práticas
Um dos desafios mais significativos foi enfrentar a percepção dos adolescentes de que o celular fazia parte de sua identidade. Para superar essa barreira, a escola investiu em um diálogo constante e participativo, envolvendo alunos e professores na construção de alternativas. Os alunos também passaram a sugerir alternativas para registrar e celebrar momentos importantes, como a substituição dos smartphones por uma máquina fotográfica durante o cotidiano escolar.
Fundamentos Psicológicos e Legais da Mudança
Do ponto de vista psicológico, a proibição dos celulares reflete uma preocupação com o equilíbrio emocional e social dos jovens. Estudos apontados em A Geração Ansiosa demonstram que o uso excessivo de tecnologias fragmenta a atenção, alimenta a ansiedade e prejudica o desenvolvimento de competências sociais. Ao eliminar as distrações constantes, os alunos ganham espaço para um aprendizado mais profundo, o fortalecimento dos vínculos e a prática de atividades que estimulam a criatividade e a empatia.
No campo legal, a medida encontra respaldo na responsabilidade das instituições de ensino em proporcionar um ambiente seguro e propício ao desenvolvimento integral. Dispositivos legais, como o Estatuto da Criança e do Adolescente, reforçam o compromisso de proteger e promover o desenvolvimento saudável dos jovens.
Um Futuro Promissor
A experiência na Escola Monteiro é um exemplo vivo de como políticas ousadas e fundamentadas podem reverter tendências preocupantes. Hoje, os alunos demonstram maior expressividade, interatividade e dedicação tanto às atividades acadêmicas quanto às recreativas. Penha Tótola comenta: “Nosso compromisso é preparar os jovens para um futuro onde a tecnologia seja usada de forma consciente. A transformação que estamos vivendo aqui, com alunos se envolvendo mais ativamente e resgatando o valor do contato humano, nos confirma que essa abordagem é um investimento essencial no bem-estar e no sucesso dos nossos estudantes.”

Essa iniciativa evidencia que, ao unir fundamentos psicológicos, legais e a escuta ativa das necessidades dos alunos, é possível criar um ambiente educacional que resgata a essência das relações humanas. Em um mundo onde a tecnologia avança a passos largos, a Escola Monteiro reafirma seu compromisso com uma educação que promove a saúde mental, o diálogo e o desenvolvimento integral dos jovens.