Publicado em 05/05/2020

 

A medida de isolamento social devido à pandemia do novo coronavírus se mostra eficaz para diminuir o número de contágio pela doença. Entretanto, além de evitar a propagação do vírus, o confinamento, por outro lado, pode causar alguns males à saúde emocional e psicológica das pessoas.

Assim, em entrevista, Janine Bastos, psicoterapeuta em Análise Bioenergética e especialista em Filosofia e Psicanálise, esclarece alguns questionamentos sobre a situação. Janine também é mãe de alunos da Monteiro e dá algumas dicas do que fazer, em casa, para amenizar a tensão emocional neste momento.

 

Janine Bastos, psicoterapeuta em Análise Bioenergética e especialista em Filosofia e Psicanálise. Foto: Acervo pessoal/Divulgação

De que maneira o isolamento social pode influenciar na saúde psicológica e emocional das pessoas? Por que isso ocorre?

A crise dispara gatilhos internos que, quando não cuidados, trazem à tona males como estresse, crises de ansiedade, síndromes de pânico e incertezas. Apatia, depressão e uma hiperatividade sem foco ou objetivos são outros males comuns de serem manifestados em situações como essa.

O próprio medo de sentir essas emoções faz com que elas se tornem ainda maiores, causando um ciclo que se autoalimenta, resultando no pânico.

São em momentos de crise que realmente enxergamos a nós mesmos, que experimentamos essas emoções de forma potencializada.

Isso ocorre pois, com o estresse, o corpo entra em modo de defesa automático. Assim, mecanismos de luta ou fuga são acionados. Podemos ficar hiper reativos a tudo e, desta forma, impossibilitados de relaxar, de confiar, de discernir, de ser criativo.

Quais os principais efeitos emocionais provocados (ou potencializados) pela quarentena que você vem percebendo nas pessoas?

Sem dúvida, o medo, o estresse e a ansiedade ganham grandes proporções neste momento.

Por que uns estão sofrendo mais do que outros diante das mudanças na rotina e do isolamento social?

Muitos não possuem recursos (externos ou internos) para lidar com momentos de crise.

Maior estabilidade financeira, em situações como essa, não nos garante, necessariamente, inteligência emocional para saber lidar com tanta instabilidade. Até a fatia privilegiada da sociedade tem sua vulnerabilidade exposta pela situação.

Ela nos mostra o quanto estamos todos suscetíveis ao inesperado, evidencia o quanto nosso intelecto, nessas horas, não nos assegura controle, proteção e segurança. Todos podemos nos sentir impotentes e reféns de momentos como esse.

Quando se deve procurar por ajuda psicológica profissional – mesmo que a distância?

Não é clichê dizer que a crise também nos convida a nos reconstruirmos.

Poderia citar aqui inúmeras patologias, como algumas mencionadas na primeira pergunta, mas me limitarei a dizer que, agora, temos duas importantes missões: nos reconstruirmos enquanto indivíduos e enquanto sociedade, pois a situação nos permite ver que garantir o básico – higiene, saúde, educação, saneamento – é urgente.

“A situação nos faz perceber a importância dos relacionamentos e exige interações mais verdadeiras conosco e com o outro”, afirma Janine. Foto: Acervo pessoal/Divulgação

Sabemos que quem consegue administrar melhor as próprias emoções não se paralisa e tem mais força interna para se reinventar e construir novas formas de se manter trabalhando e produzindo.

Penso que já percebemos que o básico nos é essencial, o cuidado de si e o autoconhecimento não são luxos, mas algo vital. E a análise é, sem dúvida, um caminho para a construção deste autoconhecimento que potencializa nossa existência, nos agrega respeito próprio e em relação ao outro, nos permite reconhecer nossas forças e fraquezas. São recursos que, uma vez geridos, nos oferecem ferramentas para irmos além – mesmo em tempos de crise.

O que pode ser feito, em casa, para amenizar a tensão emocional e até prevenir o desenvolvimento de outros males para a saúde nesse momento? Cite algumas dicas.

1. Separar um momento de afeto e carinho com nossos familiares e amigos. Para conhecermos o mundo um do outro, aqueles que moram conosco e que, muitas vezes, estão separados por muros da frieza, da indiferença, da falta de tempo.

2. Não deixar o boom do mundo virtual suprimir nossas relações. A situação nos faz perceber a importância dos relacionamentos e exige interações mais verdadeiras conosco e com o outro. Este é o básico que nos garante vida em abundância, o que vier além é lucro.

3. Procurar ter, na educação, outro ponto de fortalecimento emocional dos filhos e da família, estreitando a parceria com a escola. Como mãe de três filhos, escolhi a Monteiro, pois entendo que a educação tradicional forma, mas deforma o aluno. Vi, na Monteiro, um acolhimento do indivíduo com grande valor para o fortalecimento emocional e a confiança em si (não essa confiança narcisista comumente encontrada e igualmente responsável por toda essa desconexão nas relações interpessoais, profissionais e com o meio em que vivemos). Vi uma Escola que tem recursos para me auxiliar, enquanto mãe, na construção de valores que estão para além da esfera capitalista e egocêntrica onde estamos inseridos e que, com esta crise, fica claro ser algo insustentável.

4. Incluir exercícios de respiração na rotina, concentrando-se no momento presente. Para isso, basta repetir por seis vezes o seguinte processo: inspirar profundamente durante quatro segundos, percebendo o caminho que o ar faz dentro do corpo e, da mesma forma, conduzir a saída do ar por oito segundos. Manter a prática diariamente funciona como um calmante natural gratuito. Esses exercícios são ações simples que ajudam a manter o equilíbrio da mente e nos conectam ao aqui e ao agora, que é que nós temos, de fato.

Clique aqui e saiba como a família Meireles está lidando com a quarentena.

Saiba como Júlio Pagotto, professor de Filosofia da Monteiro, está lidando com o confinamento e o home office.

Talita Vieira.