Publicado em 30/10/2020

Em Toc Toc, cada personagem possui um ou mais comportamentos compulsivos. Foto: Reprodução/Warner Bros. Pictures España

O ano de 2020 vem sendo marcado por intensos acontecimentos e mudanças. Como consequência do isolamento social e da pandemia de COVID-19, destaca-se a crescente identificação de doenças psicológicas nas pessoas. O transtorno obsessivo compulsivo (TOC), que pode estar entre esses males, é o tema do filme Toc Toc, de 2017, disponível na Netflix.

Dirigido por Vicente Villanueva, o longa-metragem espanhol, indicado para maiores de 14 anos, conta a história de seis pessoas portadoras de TOC. Elas acabam permanecendo, por vontade própria, na sala de espera de um consultório psicológico enquanto aguardam a chegada do dr. Palomero, conhecido por adotar métodos nada convencionais para tratar seus pacientes. O atraso do médico induz a interação entre as personagens que, com suas singularidades, dispõem-se a lidar e a ajudar uns aos outros em relação às compulsões que possuem.

Um dos comportamentos mostrados no filme é baseado no medo de pisar em linhas e na obsessão por simetrias. Foto: Reprodução/Warner Bros. Pictures España

Entre os diferentes tipos de transtorno obsessivo compulsivo, o longa retrata a Síndrome de Tourette (provoca comportamentos involuntários agressivos, como a pronúncia de palavrões e a gesticulação obscena), a Aritmomania (impele o indivíduo a contar tudo à sua volta, devido à obsessão por números), a compulsão por limpeza, a compulsão por simetrias, a compulsão por repetição de gestos, palavras e expressões, e o medo compulsivo de esquecer-se da chave de casa, deixar potes, janelas e portas abertas, e eletrodomésticos ou outros dispositivos ligados.

O filme mostra personagens com vidas completamente diferentes e limitações muito particulares compartilhando uma série de comportamentos compulsivos, que as impedem de levar vidas consideradas normais. A curiosidade, somada à situação comum, desperta nos pacientes o interesse pelas vidas uns dos outros, sensibilizando-os a ajudarem-se. A atitude altruísta serve de exemplo para o público, o qual encontra na narrativa um estímulo à solidariedade.

Como alguns podem questionar, Toc Toc evoca humor sem tirar a seriedade do transtorno. De maneira perspicaz, mostra as personagens e suas compulsões sob um olhar descontraído, dando abertura a um importante diálogo: as vidas de pessoas que enfrentam doenças psicológicas, como o TOC. O filme exibe os desafios enfrentados pelas personagens não apenas em atividades do cotidiano, mas também para estabelecer e manter relações sociais e vínculos afetivos os quais, consequentemente, sofrem influência da doença.

O respeito às diferenças e a solidariedade marcam Toc Toc. Foto: Reprodução/Warner Bros. Pictures España

Ao longo dos 90 minutos da narrativa audiovisual, o telespectador pode se identificar com diversos comportamentos das personagens, já que inúmeros hábitos cotidianos podem apresentar traços patológicos. Essa identificação promove empatia em relação aos portadores desses transtornos psicológicos e contribui para o desenvolvimento de um olhar mais sensível para o outro, em relação às suas peculiaridades e diferenças.

O enredo se mostra muito bem construído, pois tem a capacidade de reter a atenção do público e faz com que o tempo de duração do longa passe despercebido. Ao final, um interessante plot twist ocorre, demonstrando representatividade e reforçando, por meio da obra, a importância da inclusão social.

Toc Toc impulsiona uma reflexão sobre os valores de cada indivíduo e seus desdobramentos dentro das relações sociais, além de abordar o respeito às diferenças, revelando-se um ótimo filme de entretenimento, sem deixar de ser inteligente. Inclusive, a obra também chama atenção e desperta curiosidade pelo cinema espanhol como um todo.

Talita Vieira.