O mundo pode ser a sala de aula? Os caminhos do Estudo do Meio na Monteiro

Visita dos/as alunos/as do 1º ano ao Parque Botânico

Onde o aprendizado acontece? Seria apenas dentro da sala de aula, com livros e lápis? Ou também no meio de uma horta, diante de uma obra de arte, ao lado de um colega curioso ou no contato com quem vive realidades diferentes das nossas?

Na Escola Monteiro, essas perguntas não ficam sem resposta, elas guiam escolhas pedagógicas que valorizam a escuta, a autonomia e o pensamento crítico desde cedo. É nesse contexto que o Estudo do Meio se consolida como uma das práticas mais potentes do currículo do Ensino Fundamental 1: uma forma de aprender que atravessa os portões da escola e convida as crianças a enxergarem o mundo como ele é — cheio de histórias, possibilidades e saberes.

Por isso, na Monteiro, o conhecimento extrapola as paredes da sala de aula. Ele se espalha por museus, hortas, ruas e comunidades, germinando a cada passo e a cada pergunta feita. É nesse movimento que o Estudo do Meio ganha vida — uma prática que transforma o aprendizado em experiência e coloca o estudante em contato direto com o mundo que o cerca.

 

Para as professoras Tatiana Pissaia e Lílian Valin, do 2º ano do Ensino Fundamental, essa metodologia é parte essencial do projeto pedagógico da escola. “É a oportunidade de transformar o aprendizado em algo concreto e significativo”, diz Tatiana. Já Lílian define da seguinte forma: “O Estudo do Meio transforma conhecimento em experiência, conectando os alunos ao mundo de forma dinâmica e significativa”.

Essa visão é compartilhada e fortalecida por Graciela Schuwartz, coordenadora do Ensino Fundamental 1, que ressalta o valor das experiências diretas e concretas fora do ambiente escolar tradicional. Para ela, o Estudo do Meio amplia o aprendizado ao conectar os conteúdos com a realidade, o que desperta a curiosidade natural das crianças e estimula a sua autonomia e capacidade de observação.

Graciela Schuwartz, coordenadora do Ensino Fundamental 1

Conexão entre teoria e realidade

A construção de cada saída pedagógica começa com a definição de temas e objetivos, escolha do local e preparação logística. Mas também vai além. Há um tempo dedicado à escuta, à pesquisa e ao despertar do interesse das crianças. Os alunos exploram, ainda em sala, conteúdos que os ajudarão a interpretar melhor o que será observado fora dela.

Esse preparo prévio é essencial para que o Estudo do Meio seja uma experiência rica e significativa. “Essa preparação permite que os alunos façam conexões entre o aprendizado teórico e prático”, explica Lílian.

Durante o planejamento, diferentes áreas do conhecimento são integradas, o que torna a aprendizagem interdisciplinar, contextualizada e alinhada aos objetivos pedagógicos.

Lílian Valin, professora regente do 2° ano A

Exemplos que aproximam e encantam

Em maio, a turma de Tatiana visitou a Fazenda Urbana Cooltiva, dentro do projeto “Quem planta, cuidado colhe saúde”. Lá, os alunos observaram o cultivo de hortaliças livres de agrotóxicos, aprenderam sobre o ciclo de vida das plantas, sustentabilidade e alimentação saudável. Discutiram as diferenças entre o campo e a cidade e criaram gráficos e ilustrações a partir das observações.

Já a turma de Lílian participou de um Estudo do Meio com a artista Margarete Freitas, integrando arte, literatura e história. A experiência inspirou reflexões sobre linguagem, cultura e criatividade. Uma aluna, encantada, disse: “Quero vir aqui mais vezes! É muito divertido fazer essas pinturas”.

E ainda sobre a visita à Cooltiva, outra criança demonstrou surpresa diante da técnica de hidroponia: “Não sabia que chamava isso e nem que era tratada com água rosa!”, contou — um pequeno espanto que revela o quanto o novo pode provocar encantamento e aprendizado real.

Tatiana Pissaia, professora regente do 2° ano B

A aprendizagem contínua

Após cada vivência, os alunos retornam à escola para compartilhar, sistematizar e refletir. Em rodas de conversa, textos e ilustrações, relembram o que viram, sentiram e pensaram. “Esse momento fortalece a escuta, a empatia e o respeito às opiniões dos colegas”, diz Tatiana.

Segundo Graciela, o ambiente externo desperta uma empolgação que amplia a escuta, a atenção e a capacidade de observação. Nessas vivências, surgem espontaneamente atitudes de liderança, solidariedade e cuidado com o outro, além de um engajamento que muitas vezes vai além do que se observa em sala de aula.

Visita dos/as alunos/as do 2º ano ao Ateliê Margarete Freitas e à Fazenda Urbana Cooltiva

Desenvolvimento integral e crítico

As professoras observam transformações reais nos estudantes. O envolvimento aumenta, a curiosidade se intensifica e os vínculos se fortalecem. Os alunos desenvolvem competências cognitivas e socioemocionais, como:

  • Autonomia e protagonismo;
  • Comunicação oral e escrita;
  • Trabalho em equipe e empatia;
  • Resolução de problemas e pensamento criativo;
  • Consciência ambiental, social e cultural.

A coordenadora, reforça que o Estudo do Meio dialoga diretamente com os valores que a Monteiro busca cultivar: a autonomia é estimulada quando os alunos participam do planejamento e execução das atividades; a escuta se faz presente nas trocas e reflexões; e o pensamento crítico se fortalece ao analisarem o que vivenciaram e ao se questionarem sobre o mundo ao redor. “O protagonismo das crianças é visível. Elas se tornam agentes ativos do próprio aprendizado”, afirma.

Aprender com os alunos

Para ambas as professoras, o Estudo do Meio é também um processo de crescimento pessoal e profissional. “Esses momentos fortalecem minha prática pedagógica e a relação com meus alunos”, diz Tatiana. Já Lílian reflete: “Aprendo a observar o mundo pelos olhos das crianças. Elas enxergam conexões que a gente às vezes nem percebe. Isso abre espaço para diálogos incríveis”.

Uma escola que vive o território

Na Monteiro é assim, o Estudo do Meio faz parte da metodologia, mas também é um convite para explorar, se encantar e construir conhecimento de forma viva, ética e sensível. Ele aproxima os estudantes das questões sociais, culturais e ambientais do seu tempo e espaço, e os prepara, desde cedo, para serem sujeitos críticos e atuantes no mundo.

Porque quando a escola se abre para o mundo, o mundo também entra na escola — e transforma tudo ao redor em possibilidade de aprender.