Publicado em 23/03/2021

 

Com o alastramento da pandemia de Covid-19 em 2020, as instituições de ensino públicas e privadas tiveram seu papel questionado por muitos, independentemente das modalidades de ensino adotadas (remota ou presencial). 

Em entrevista, a pedagoga, escritora e palestrante Priscila Boy, diretora da Priscila Boy Consultoria e pós-graduada em Antropologia Filosófica, com MBA em Marketing pela Fundação Getúlio Vargas, salienta observações pessoais sobre o comportamento da sociedade perante o sistema educacional, além de esclarecer qual é a importância da educação proporcionada pelas escolas.

 

Especialista em educação, Priscila é diretora da Priscila Boy Consultoria, além de pedagoga, escritora e palestrante. Foto: Acervo pessoal/Divulgação

No contexto de pandemia que estamos vivendo, como você interpreta o comportamento da sociedade, de maneira geral, em relação à educação?

Neste momento de pandemia, temos visto um desrespeito enorme com os professores, educadores da sociedade. Agora, estamos em uma segunda “onda”. Na primeira, houve uma desqualificação do professor e da escola. Algo que expressa de forma histórica como a educação é desvalorizada em nosso país. Na segunda “onda”, observamos uma maior valorização do trabalho dos educadores, após alguns meses de intensificação do confinamento, que foi determinado pelos governos estaduais. As pessoas vêm percebendo que não sabem ou não dão conta de ensinar a seus filhos de maneira semelhante à escola. Há um reconhecimento gradual das famílias acerca do trabalho dos professores que, no atual contexto, estão se reinventando continuamente, buscando cada vez mais formas de trabalhar. A partir dessa percepção, temos esperança de que o professor volte a ser valorizado.

Enquanto educadora, como você explica o papel da escola na vida das crianças, adolescentes e jovens? Para que ela serve?

A educação é a base de toda a formação do ser humano. A educação é um processo civilizatório da humanidade, que envolve a partilha de práticas de convivência, de socialização, de saberes, de conteúdos. Ela é a base de toda a construção da sociedade, na qual necessitamos de conhecimentos e regras sociais, de convivência, da natureza, de leis… Precisamos de tantas coisas para sobreviver e conviver, e a educação desenvolve nosso cérebro, nos orienta. 

Como a educação proporcionada pelas instituições de ensino impacta a vida das pessoas? De que forma ela contribui para a cidadania e a sociedade?

As instituições de ensino praticam o que chamamos de “educação formal”. A educação informal acontece no âmbito familiar, no meio social, nos ambientes que frequentamos – estamos sempre aprendendo alguma coisa com pessoas e situações. Mas a instituição de ensino traz um saber formal, como acerca dos elementos da ciência, da matemática, da linguagem – conhecimentos que, muitas vezes, não temos acesso na convivência com a família. Estes são conhecimentos formais necessários e úteis que nos ajudam a construir nossa forma de agir. São saberes que, às vezes, os meios informais nos quais adquirimos conhecimento não têm condições de ofertar. Portanto, a instituição de ensino é muito importante (não só) no cumprimento desse papel, o de proporcionar uma educação formal, mas também essa é uma função intrínseca à escola.

Além da educação formal, a escola propicia o contato de crianças e adolescentes com a pluralidade. Foto: Talita Vieira/Divulgação

De que modo a educação proporcionada pelas instituições de ensino é necessária à construção do conhecimento para além dos conteúdos curriculares? 

A escola tem um papel muito importante na construção de princípios e valores individuais. Além do que foi falado sobre a educação formal, em relação aos conteúdos, é na escola que temos a oportunidade de conviver com a pluralidade. Ela nos possibilita ter contato com pessoas de famílias diferentes da nossa, pessoas com as quais, muitas vezes, não conviveríamos se permanecêssemos em nosso próprio meio social. Geralmente, as pessoas com quem mais convivemos (em nossa rua ou igreja) pensam como nós. Temos uma tendência de nos agrupar por tribos. E, no ambiente escolar, encontramos pessoas completamente diferentes. Lá, somos ensinados a nos respeitar e conviver de forma harmônica. 

Nosso cérebro precisa de desafios para desenvolver-se. Quando nos deparamos com pessoas que pensam e agem de maneira completamente diferente da nossa, podemos analisar se é mais vantajoso, proveitoso ou correto agir da mesma forma a que estamos acostumados ou da forma do outro. Essas escolhas influenciam nossa conduta e, assim, solidificamos nossos valores e princípios. No contato diário com a diversidade e a pluralidade, podemos definir quem somos de uma forma melhor. A escola nos proporciona a convivência e o contato com as diferenças e, assim, torna-nos mais humanos. 

Talita Vieira.